13 meses à deriva no Pacífico

Viu morrer a seu lado o companheiro de aventura de apenas 15 anos. Pensou suicidar-se. Resistiu. Apanhou peixes e aves com as próprias mãos para comer e bebeu urina, água da chuva e sangue de tartaruga, tudo para sobreviver. Conseguiu. Treze meses depois de andar à deriva pelo Oceano Pacifico, a sorte levou o barco para o atol Ebon, no arquipélago da pequena República das Ilhas Marshall.
Podia ser o argumento de mais um filme na linha de “O Náufrago”, protagonizado em 2000 por Tom Hanks, ou do mais recente “A Vida de Pi”, dirigido por Ang Lee. Mas esta é, até ver, uma história bem real.
José Salvador Alvarenga, de 37 anos, natural de El Salvador, decidiu a 12 de dezembro de 2012 realizar uma pescaria de tubarões com Ezequiel, um amigo adolescente de apenas 15 anos. Partiram da costa do Méxiconum pequeno barco de fibra de vidro. Apanhada por uma tempestade, a pequena embarcação foi arrastada para oeste e terá andado 13 meses à deriva.
Na quinta-feira, 30 de janeiro, o barco de José Alvarenga foi encontrado no atol Ebon. De início, identificou-se apenas como José Ivan. Em espanhol, o que criou alguma dificuldade de interpretação com as autoridades das Ilhas Marshall, Alvarenga contou a incrível história, que inclui a morte em alto mar do companheiro de viagem.
“Eu apenas via o sol e a noite. Nunca vi terra. Era oceano puro e muito calmo. Apenas enfrentei uns dois dias de ondas grandes”, recordou o náufrago. Sobre o companheiro de aventura, contou que Ezequiel morreu cerca de quatro meses após andarem a deriva, por alegadamente se recusar a comer carne crua. “Durante quatro dias, quis matar-me. Mas não consegui”, confessou.
Um dia, “após ter morto uma pequena ave para comer”, Alvarenga avistou árvores. “Gritei ‘Oh Deus!’ Fui para terra e adormeci durante algum tempo. Quando acordei, de manhã, ouvi um galo, vi galinhas e avistei uma pequena casa. Vi duas mulheres nativas a gritar. Eu não estava vestido. Tinha a roupa interior e rasgada”, contou.
Levado para o hospital, foi, então, interrogado pelas autoridades. Tinha perdido peso, a barba e o cabelo cresceram, claro, mas estava aparentemente bem de saúde, tirando um certo inchaço em algumas partes do corpo como os tornozelos e com a tensão um pouco baixa.
Já nem a família acreditava que estava vivo. Só a mãe de José, insistia que sim, contou a irmã, Yanira Bonilla: “A minha mãe dizia-me sempre: ‘Filha, ele não estã morto’. Eu dizia-lhe: ‘Mamã, não te iludas’. E ela insistia: ‘Pressinto que ele está vivo’. E agora posso ver e comprovar que uma mãe nunca se engana.”
O irmão diz que “foi arrebatador”. “Fiquei sem palavras. Estou muito feliz e muito agradecido a Deus e às pessoas que resgataram o meu irmão. Tenho uma dívida eterna para com essas pessoas. Não há palavras ou gestos que sejam suficientes para lhes agradecer tudo o que fizeram e estão a fazer por ele”, afirmou Carlos Alvarenga.
José Alvarenga percorreu mais de oito mil quilómetros no pequeno barco até dar à costa no atol Ebon, no arquipélago das ilhas Marshal. As autoridades estão ainda a tentar apurar a veracidade do incrível relato do náufrago.
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