Fábrica de Escrita

Envelhecemos com as palavras ou elas connoscodigo amor e já não corro precipitadamentepela escadaria de pedra com enormesanjos de facas sobre as nossas cabeças
que me levava ti nas manhãs em que o desejo
(a que evidentemente dávamos
outro nome mais brando )
e nos rebentava o corpo como o pólen
das árvores na primavera
e ainda não sabíamos sequer
que transportávamos em nós
a doença incurável das noites que não iriam ser as que esperávamos
já não sigo no teu corpo os sulcos
largados pelos meus dedos na hora apressada do regresso a casa
nem abafo na amurada de todas as partidas
o gesto com que não soube prender a tua fuga
digo amor e estão muito longe
as maneiras subtis de te levar escondido
entre cadernos e camélias e dilacerados sorrisos
de fim de festa
pior do que isso:
nem sequer preciso de dizer amor
para que ele se desfaça nos terrenos baldios
do meu sangue onde os teus passos
durante tantos anos o procuraram
e ilumine as horas em que o eco da tua voz
traz consigo as espadas que os anjos de pedra
então nos apontavam.
que me levava ti nas manhãs em que o desejo(a que evidentemente dávamosoutro nome mais brando ) e nos rebentava o corpo como o pólendas árvores na primaverae ainda não sabíamos sequerque transportávamos em nósa doença incurável das noites que não iriam ser as que esperávamosjá não sigo no teu corpo os sulcoslargados pelos meus dedos na hora apressada do regresso a casanem abafo na amurada de todas as partidaso gesto com que não soube prender a tua fugadigo amor e estão muito longeas maneiras subtis de te levar escondidoentre cadernos e camélias e dilacerados sorrisos de fim de festa pior do que isso:nem sequer preciso de dizer amorpara que ele se desfaça nos terrenos baldiosdo meu sangue onde os teus passosdurante tantos anos o procurarame ilumine as horas em que o eco da tua voztraz consigo as espadas que os anjos de pedraentão nos apontavam.
Alice Vieira
in O Que Dói Às Aves
Editorial Caminho, 2009

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