Sono de qualidade é ingrediente fundamental para a beleza

Aprender - ou reaprender - a dormir direito é a meta de muita gente que busca uma aparência melhor todos os dias


Não faz muito tempo uma paciente entrou no consultório de Amy Wechsler, uma dermatologista de Nova York, reclamando de uma ruga que não existia na semana anterior. "Perguntei o que tinha mudado e – batata! - ela me disse que não vinha dormindo bem", conta a médica.
Beleza é sinônimo de sono e vice-versa, mas no mundo moderno de multitarefas o bem dormir acaba comprometido.
Amy, autora de "The Mind-Beauty Connection", diz que não há solução rápida para um sono adequado; é preciso uma mudança lenta e consciente: "É necessário traçar um plano; a pessoa precisa desacelerar", afirma ela. E ensina àqueles que levam uma vida agitada, mas querem desesperadamente uma aparência descansada, que o Botox entre as sobrancelhas pode até disfarçar em curto prazo, mas não lida com a causa do problema.


Nem remédios para dormir, que quase sempre são usados de maneira errada e causam problemas para a saúde, são a solução. O grande problema para a maioria de nós, segundo Michael Breus, psicólogo que se autointitula Sleep Doctor ("Médico do Sono"), é a ansiedade. "E, para isso, é preciso acalmar o cérebro", ensina ele.
É aí que entram os travesseiros de lavanda, nap pods e massagistas. A indústria do bem-dormir está à toda e só faz crescer, ao mesmo tempo em que o sono se torna uma experiência de beleza cada vez mais desejada.
O Centro Nacional de Medicina Alternativa e Complementar, que faz parte do Instituto Nacional de Saúde dos EUA, tem uma seção em seu site dedicada ao tratamento de doenças do sono, com ervas e práticas de meditação, como o tai chi.

O spa Canyon Ranch pretende dobrar o número de estudos sobre o sono de noite inteira que conduziu em 2013 e 2014. O número de clientes que opta pelos programas de descanso e relaxamento do Omega, centro holístico no estado de Nova York, aumentou 30% desde 2006. Outras opções do resort incluem sessões de cochilos intensos ("power naps"), cardápios de travesseiros e programas de ioga para o sono.
O Yelo Spa, centro de massagem, reflexologia e sono de Nova York, que desde 2007 abriu filiais em São Paulo e em Porto Rico, tem planos de abrir seu primeiro spa em um aeroporto em 2016, no Charles de Gaulle de Paris. Nicolas Ronco, dono do Yelo, abriu o negócio depois de notar, durante uma viagem de negócios a Kyoto, no Japão, que a cidade estava coalhada de locais que ofereciam ajuda para dormir. "Parece os Starbucks em Nova York", descreve. Inspirado na ênfase que o Ocidente dá à produtividade a qualquer custo (à base de cafeína, pílulas, força de vontade), ele decidiu investir no bem-estar.

O mesmo fez a editora de livros Sharyn Rosart, que teve que "reaprender a dormir", como ela mesma descreve, depois de abandonar o uso do remédio Ambien, que lhe causava "pesadelos assustadores" e a fazia acordar com o coração na boca. E preferiu aumentar a carga de ioga e pilates, tirando vantagem do relaxamento ao fim de cada aula. "São recursos que ajudam a gente a ter certeza que dá para dormir sozinho, sem ajuda", diz ela.
A professora de pilates de Sharyn, Lawson Harris, consegue driblar qualquer sinal de insônia com uma meditação progressiva antes de ir para a cama, a mesma que faz com os alunos ao fim de cada sessão. "Durmo feito um bebê depois", revela.
Getty Images
Meditação e relaxamento levam a um sono melhor
Só que adormecer ‒ e continuar dormindo ‒ é um tanto um jogo mental quanto uma experiência psicológica. Por isso é que Michael Breus trata os pacientes com técnicas de terapia comportamental cognitiva como o "diário de preocupação", no qual se escreve o problema em uma página e na outra, a solução, antes de ir para a cama, mesmo que seja algo do tipo "Isso eu resolvo amanhã". Segundo o médico, o ato de escrever aquilo que mantém o cérebro ativo ajuda os pacientes a fechar a mente para as ansiedades. E para quem acorda no meio da noite, ele oferece um MP3 com uma meditação de relaxamento de músculos                                                                                               semelhante à de Lawson Harris.

Rubin Naiman, especialista em sono e sonhos que faz workshops em ashrams e spas ao redor dos EUA, observa que as pessoas se esforçam demais para pegar no sono e precisam aprender a "se apaixonar pelo descanso novamente", acrescentando que isso só acontece "através de rituais e prazer".
Para isso, criou o conceito que rege o Sleep Studio, uma loja no SoHo regida pelos ritmos diários. Com produtos luxuosos para a pele da Red Flower e Circ-Cell, que usam ingredientes como perrexil-do-mar e mirra, pijama de seda e colchões de última geração, é um verdadeiro paraíso para quem quer descansar.
Os fabricantes de cosméticos também estão entrando no jogo com produtos como o Deep Sleep Mineral Bath Salt da Kneipp, com valeriana e lúpulo, e a linha Age Corrective Night, da Éminence, feita com lavanda. A Bath & Body Works possui uma coleção de aromaterapia chamada Sleep, que inclui borrifo para travesseiro, esfoliação com açúcar e óleo de massagem. E a linha de óleos essenciais da Hope Gillerman, que trabalha com pontos de acupressão para diminuir o estresse do corpo e da mente, inclui um produto chamado Natural Rest Sleep Remedy.
Entre as ervas com qualidades calmantes estão a valeriana e a casca da árvore de magnólia. Em relação à lavanda, Michael Breus acredita que ela ajuda a relaxar, mas não faz a pessoa dormir. "Você não dá uma cheirada e pronto, desmaia", diz ele.
Ele também aconselha a não consumir bebidas alcoólicas antes de ir para a cama porque elas não permitem que a pessoa adormeça profundamente e é essa a fase de reparação de células. "Além do mais são diuréticas, ou seja, você terá que ir ao banheiro durante a noite, interrompendo o sono".
Mas e se você deixar de lado o copo de vinho, completar o diário das preocupações, tomar um banho quente, der uma cheiradinha no travesseiro de lavanda, tomar leite morno, ler metade de "Guerra e Paz" e ainda assim não conseguir dormir?
É aí que entra um dos truques de Rubin Naiman. "O sono está sempre ali, nos limites da consciência. Essas tentativas clínicas trabalham com a determinação, mas é ela que, ao mesmo tempo, atrapalha o processo. O segredo é aprender a se render, deixar-se levar. Dormir é uma delícia, o sono não é apenas servo da vida desperta. Deve ser bem aproveitado".

Sem comentários:

Enviar um comentário